sexta-feira, 26 de agosto de 2011

A visão céltica do pós-morte

Quando eu estava começando no Druidismo, eu costumava ler informações de textos de ordens neodruídicas modernas européias e norteamericanas, e sempre ouvia falar de termos como Abred, Ceugant, Gwynfyd, Cythraul e Droug como círculos de existência ou reecarnação.

Eu costumava passar horas tentando compreender essa doutrina a partir da leitura de As Tradições Celtas , do Robert Ambelain. Confesso que achava tudo muito abstrato, embora muito bonito, enquanto reflexão filosófica. À medida que fui conhecendo melhor a cultura celta e compreendendo o Druidismo antigo, percebi que essa reflexão sobre os círculos de renascimento e evolução eram estranhos à cultura celta e ao Druidismo. Particularmente, a idéia de “evolução espiritual” não parece encontrar indícios dentro da cultura celta.

Por isso, abandonei as Tríades da Bretanha como fonte de entendimento da doutrina druídica antiga. (Guardei apenas algumas que soam bastante antigas, como a 22 ou 82).

E passei a procurar a visão céltica do pós-morte dentro da própria cultura celta. Por exemplo, atualmente eu utilizo como fonte de reflexão a história mitológica de Cerridwen e Gwion Bach / Taliesin para entender o renascimento ou reencarnação.

Após tomar por acidente uma poção mágica que estava reservada para o filho de Cerridwen, Gwion Bach é perseguido e engolido por Cerridwen, que fica grávida. Ele renasce com a sabedoria que havia adquirido quando ingeriu a poção. Na minha opinião, isso quer dizer que, para a cultura celta, o conhecimento adquirido em uma vida é aproveitado em outra vida.

Gwion Bach conta para o príncipe que o resgatou das águas o que havia lhe acontecido. Então, podemos supor que os celtas acreditavam que podemos ter lembranças de uma vida anterior...

Depois que Gwion Bach renasceu, Cerridwen não teve coragem de matá-lo, apenas livrou-se dele. Ela não mais o perseguiu e ele não foi atrás dela pedir desculpas pelo incidente da vida passada. Ele foi viver sua nova vida, chamando-se então Taliesin. Na minha opinião, isso mostra que na cultura celta não havia a idéia de karma, resgate de pecados passados, etc. Quando a gente renasce, começa outra vida, com outras circunstâncias, sem nenhuma dívida espiritual pré-fixada...

Gwion Bach renasceu Taliesin aqui, neste mundo, nesta dimensão. Então eu penso que os celtas não tinham a idéia de outros círculos de renascimento como caminho de evolução espiritual. A mitologia celta está cheia de descrições de outros mundos além do nosso, mas são mundos feéricos, ou seja, são mundos ou terras de fadas, e que coexistem com o nosso. Muitos heróis e personagens mitológicos visitaram esses outros mundos feéricos em vida, ou seja, esses mundos de fadas não são os círculos de evolução das (modernas) Tríades da Bretanha...

Os relatos gregos e romanos também pode nos dar algumas pistas de como os celtas viam a questão do renascimento ou reencarnação.

“O ensinamento principal dos Druidas é que a alma não perece, mas, depois da morte, passa de um corpo para outro.” (Júlio César, Da Guerra na Gália)

Júlio César também relatou que os antigos bretões não comiam carne de grou (ave aquática) por medo de que ele pudesse ter sido humano em uma vida anterior. Então, de acordo com a crença celta, nós, humanos podemos reencarnar / renascer como animais...